Comitê conseguiu aliar adversários históricos
Qual evento poderia reunir na mesma mesa e prol do mesmo objetivo políticos de correntes diametralmente opostas, sindicalistas tanto de sindicatos patronais como de trabalhadores, artistas, intelectuais, representantes de religiosidades protestantes, africanas e israelita - e até mesmo ruralista?
Pois esse evento ocorreu ontem a noite, na Avenida Presidente Vargas, centro financeiro da capital paraense. A anfitriã e líder do movimento foi a ACP - Associação Comercial do Pará -, com quase 200 anos de vida, uma das instituições mais antigas do Norte do Brasil. O motivo era único: fundação do comitê contra a divisão do Estado do Pará, proposta que tramita no Congresso para retalhá-lo em três.
Apesar de seu salão nobre ser grande, estava completamente lotado: paredes humanas de 3 a 4 cidadãos de espessura formaram-se nas paredes do recinto, que estava com bandeiras do Pará e balões das suas cores. Cada espectador ganhou ao menos uma bandeirola do estado.
Dando início ao evento, a cantora Lucinha Bastos interpretou o hino nacional e vários minutos depois, quando se pronunciou na tribuna, encerrou seu discurso cantando a música Belém-Pará-Brasil, do Mosaico de Ravena (para ouvi-la no youtube, clique aqui). O primeiro discurso foi do presidente da própria ACP - que ressaltou que essa instituição já viu de tudo, "desde a proclamação da República, o Ciclo da Borracha, as duas grandes guerras mundiais, mas nunca verá, dependendo de nós, a divisão do Pará" -, seguido de representantes de instituições empresariais e depois pelos políticos.
Celso Sabino, eleito primeiro-suplente do PR e deputado estadual em exercício, falou muito bem, chegando ao ponto de pegar um mapa com as divisas propostas e afimar que as linhas não são retas, mas sim cheias de "pernas": que vão buscar "lá em cima" municípios ricos (como Tucuruí e Breu Branco) e "pernas" que se livram de municípios pobres (como Senador José Porfírio e Anapu). Propôs que pegássemos o mapa mineralógico e sobrepuséssemos às linhas projetadas.
Sabino afirmou ainda que lamenta muito o fato de o Pará acolher de braços abertos muitos migrantes de várias partes do Brasil, propiciar-lhes o enriquecimento através de terras fartas, baratas e produtivas e agora receber uma resposta tão ingrata. Afirmou ter conhecimento de causa, por ter trabalhado na Secretaria Estadual de Fazenda (SEFA), para falar que este território não tem como sustentar três vezes mais políticos e, ao mesmo tempo, crescer.
Carlos Augusto Barbosa, vereador do DEM em segundo mandato e vice-presidente da Câmara Municipal de Belém, trouxe frases de repúdio a esses movimentos que, segundo ele, querem levar o filé e nos deixar com o osso. Convidou todos para, na próxima quinta-feira, dia 09 de Junho, sessão especial no parlamento da cidade para debater a divisão.
Edmilson Rodrigues, o deputado estadual mais votado da história do Pará, ex-prefeito de Belém pelo PT e hoje locomotiva eleitoral do PSOL, disse ser um crime tentar dividir o Pará. Como único representante da oposição ao governo Jatene ali presente, disse que a proposta não gerará perspectivas de melhora para a população comum, mas sim só fará fortalecer as elites locais hoje dominantes. Encerrou seu discurso dizendo que "o Arnaldo sem o Jordy é qualquer Arnaldo, o Zenaldo sem o Coutinho é qualquer Zenaldo e o Pará sem Carajás e Tapajós é qualquer estado menos o Pará" - foi altamente aplaudido.
Zenaldo Coutinho, deputado federal reeleito dentre os mais votados do estado para o terceiro mandato seguido e licenciado da Câmara Federal para ser chefe da Casa Civil do governo "Jatene II", sempre pelo PSDB, encerrou o evento de maneira enérgica: chamou de oportunistas os políticos das áreas separatistas que historicamente abandonam suas regiões e hoje vêm defender que a divisão melhorará algo. Trouxe ainda três tristes notícias: o fato de os separatistas divulgarem que gastarão oficialmente 50 milhões na campanha plebiscitária, a contratação do publicitário Duda Mendonça por eles e o fato de a Assembleia Legislativa de Goiás haver entrado com ação no Supremo Tribunal Federal para que o plebiscito seja realizado apenas nas áreas que se pretendem dividir - Goiás tentando influenciar nas questões internas do Pará!
Trio
O "pequeno" detalhe entre Edmilson, Jordy e Zenaldo é que os três já foram candidatos a prefeito da capital e hoje dispontam como os três favoritos para a disputa do ano que vem - Zenaldo como "o prefeito do governador", Jordy como uma segunda candidatura do governo estadual, Edmilson com seu patrimônio eleitoral acumulado - além de Priante pelo PMDB e alguém do PT, esses dois últimos tidos como "na margem do processo". Edmilson, Jordy e Zenaldo estavam sentados lado a lado e, ao final do evento, deram as mãos lavantando-as, juntos com todos na mesa, cena para mim inimaginável. São eles, respectivamente:
Políticos presentes:
deputados federais: Zenaldo Coutinho (PSDB), Arnaldo Jordy (PPS) e André Dias (PSDB);
deputados estaduais: Edmilson Rodrigues (PSOL), Celso Sabino (PR) e Sidney Rosa (PSDB);
vereadores de Belém: Carlos Augusto Barbosa (DEM), Luiz Pereira (PR), Miguel Rodrigues (PRB) e Gervásio Morgado (PR).
O evento foi encerrado com a execução do hino do Pará, acompanhando verbalmente por todos, em pé. Muito bonito.
Pois esse evento ocorreu ontem a noite, na Avenida Presidente Vargas, centro financeiro da capital paraense. A anfitriã e líder do movimento foi a ACP - Associação Comercial do Pará -, com quase 200 anos de vida, uma das instituições mais antigas do Norte do Brasil. O motivo era único: fundação do comitê contra a divisão do Estado do Pará, proposta que tramita no Congresso para retalhá-lo em três.
Apesar de seu salão nobre ser grande, estava completamente lotado: paredes humanas de 3 a 4 cidadãos de espessura formaram-se nas paredes do recinto, que estava com bandeiras do Pará e balões das suas cores. Cada espectador ganhou ao menos uma bandeirola do estado.
Dando início ao evento, a cantora Lucinha Bastos interpretou o hino nacional e vários minutos depois, quando se pronunciou na tribuna, encerrou seu discurso cantando a música Belém-Pará-Brasil, do Mosaico de Ravena (para ouvi-la no youtube, clique aqui). O primeiro discurso foi do presidente da própria ACP - que ressaltou que essa instituição já viu de tudo, "desde a proclamação da República, o Ciclo da Borracha, as duas grandes guerras mundiais, mas nunca verá, dependendo de nós, a divisão do Pará" -, seguido de representantes de instituições empresariais e depois pelos políticos.
Celso Sabino, eleito primeiro-suplente do PR e deputado estadual em exercício, falou muito bem, chegando ao ponto de pegar um mapa com as divisas propostas e afimar que as linhas não são retas, mas sim cheias de "pernas": que vão buscar "lá em cima" municípios ricos (como Tucuruí e Breu Branco) e "pernas" que se livram de municípios pobres (como Senador José Porfírio e Anapu). Propôs que pegássemos o mapa mineralógico e sobrepuséssemos às linhas projetadas.
Sabino afirmou ainda que lamenta muito o fato de o Pará acolher de braços abertos muitos migrantes de várias partes do Brasil, propiciar-lhes o enriquecimento através de terras fartas, baratas e produtivas e agora receber uma resposta tão ingrata. Afirmou ter conhecimento de causa, por ter trabalhado na Secretaria Estadual de Fazenda (SEFA), para falar que este território não tem como sustentar três vezes mais políticos e, ao mesmo tempo, crescer.
Carlos Augusto Barbosa, vereador do DEM em segundo mandato e vice-presidente da Câmara Municipal de Belém, trouxe frases de repúdio a esses movimentos que, segundo ele, querem levar o filé e nos deixar com o osso. Convidou todos para, na próxima quinta-feira, dia 09 de Junho, sessão especial no parlamento da cidade para debater a divisão.
Edmilson Rodrigues, o deputado estadual mais votado da história do Pará, ex-prefeito de Belém pelo PT e hoje locomotiva eleitoral do PSOL, disse ser um crime tentar dividir o Pará. Como único representante da oposição ao governo Jatene ali presente, disse que a proposta não gerará perspectivas de melhora para a população comum, mas sim só fará fortalecer as elites locais hoje dominantes. Encerrou seu discurso dizendo que "o Arnaldo sem o Jordy é qualquer Arnaldo, o Zenaldo sem o Coutinho é qualquer Zenaldo e o Pará sem Carajás e Tapajós é qualquer estado menos o Pará" - foi altamente aplaudido.
Zenaldo Coutinho, deputado federal reeleito dentre os mais votados do estado para o terceiro mandato seguido e licenciado da Câmara Federal para ser chefe da Casa Civil do governo "Jatene II", sempre pelo PSDB, encerrou o evento de maneira enérgica: chamou de oportunistas os políticos das áreas separatistas que historicamente abandonam suas regiões e hoje vêm defender que a divisão melhorará algo. Trouxe ainda três tristes notícias: o fato de os separatistas divulgarem que gastarão oficialmente 50 milhões na campanha plebiscitária, a contratação do publicitário Duda Mendonça por eles e o fato de a Assembleia Legislativa de Goiás haver entrado com ação no Supremo Tribunal Federal para que o plebiscito seja realizado apenas nas áreas que se pretendem dividir - Goiás tentando influenciar nas questões internas do Pará!
Trio
O "pequeno" detalhe entre Edmilson, Jordy e Zenaldo é que os três já foram candidatos a prefeito da capital e hoje dispontam como os três favoritos para a disputa do ano que vem - Zenaldo como "o prefeito do governador", Jordy como uma segunda candidatura do governo estadual, Edmilson com seu patrimônio eleitoral acumulado - além de Priante pelo PMDB e alguém do PT, esses dois últimos tidos como "na margem do processo". Edmilson, Jordy e Zenaldo estavam sentados lado a lado e, ao final do evento, deram as mãos lavantando-as, juntos com todos na mesa, cena para mim inimaginável. São eles, respectivamente:
Políticos presentes:
deputados federais: Zenaldo Coutinho (PSDB), Arnaldo Jordy (PPS) e André Dias (PSDB);
deputados estaduais: Edmilson Rodrigues (PSOL), Celso Sabino (PR) e Sidney Rosa (PSDB);
vereadores de Belém: Carlos Augusto Barbosa (DEM), Luiz Pereira (PR), Miguel Rodrigues (PRB) e Gervásio Morgado (PR).
O evento foi encerrado com a execução do hino do Pará, acompanhando verbalmente por todos, em pé. Muito bonito.
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