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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Denilson - uma prova de amor à vida!

Estive estes dias todos pensando nos desastres do Rio de Janeiro, pensando em duas questões importantes - uma é que desastre natural é desastre natural, no maximo podemos alertar, mas eles existem; outra coisa é que a miséria é sim determinante para que esses desastres sejam sempre maiores.

A pobreza está presente em nosso dia a dia de forma tão intensa que passa a ser rotineira e muitas vezes nem a sentimos. É o que acontece também comigo, todos os dias.

Estiveve semana passada andando pelo centro comercial de Belém, quando entrei em um shopping no centro da cidade para comprar alguma coisa para lanchar. Na fila do caixa da lanchonete da loja de uma grande rede, de supermercados um menino, magro, 10 anos, relativamente bem vestido, mostrando zelo dos pais, me pediu um lanche. Eu estava com muita fome, mas decidi pagar o lanche e sentar com o pequeno Denilson em uma das mesas da praça de alimentação - onde por sinal percebi que todos em volta olhavam desconfiados.

Conversando, soube que ele mora em Ananindeua (cidade da região metropolitana) e havia vindo ao centro de Belém com a mãe e uma das 7 irmãs para conseguir comida e talvez algum dinheiro para comprar um lápis e um caderno para ele começar a estudar. A história foi envolvente e desci no mesmo shopping com ele, encontrei minha mãe, apresentei Denilson e fomos fazer compras. Na casa dele não havia nada para comer e aquele lanche que eu havia comprado para ele tinha sido o café da manhã e almoço dele.

Uma cesta básica era pouco, não é uma semana de alimentos que fará diminuir a miséria - como ele estudaria? a escola longe, sem material escolar, o pai vendedor de doces nos ônibus circulares de Belém e a mãe dona de casa que pedia na rua quando não conseguiam comida.

A dona Albaniza, mãe do pequeno anjo, me mostrou o carinho de uma mãe... mas me mostrou mais uma vez a dura realidade de pessoas honestas, trabalhadoras e marginalizadas socialmente pela pobreza. Ela é cearense e o seu marido maranhense, se conheceram em São Paulo, em uma das favelas do ABC paulista e em uma das inundações perdeu tudo que tinham dentro de um "barraco". Conseguiu com a familia humilde do nordeste um dinheiro e chegaram a Belém para tentar a vida por aqui. Dona Albaniza, o marido, 08 filhos, entre eles Denilson - nunca me esquecerei esse nome!

Corremos, eu e minha mãe à uma papelaria e compramos o que pudemos para ele e os dois únicos irmãos que conseguem estudar em uma escola municipal que fica quase 01 quilômetro do pequeno compartimento onde essa família de 10 pessoas mora nos fundos de uma outra casa. Nunca vi um olho brilhar tanto com um caderno e um lápis.

Nesse momento eu tive a certeza de que a miséria é algo cruel mas que não tira a honestidade e a vontade de acertar das pessoas. Aquela mãe via no Denilson o sonho de uma vida. Ela me disse que queria ser professora mas acabou sendo agricultora sem saber sequer escrever seu nome. E nesse momento ouvi uma voz baixinha dizendo: "Agora vou poder ser médico e ajudar quem precisa!"

Denilson será sempre um exemplo pra mim e nunca me esquecerei esse dia em janeiro de 2011 - ele me ensinou na sua simplicidade o valor do amor, amor à vida, amor à justiça, amor à paz, amor à solidariedade, amor ao próximo... ele me ensinou a não desistir jamais, ele me ensinou que sempre podemos dar a volta por cima... ele me ensinou a viver e ele só tem 10 anos...

Que eu possa ver esse pequeno sonhador, ir longe, vencer e "ajudar as pessoas que mais precisam!"

Voa longe meu pequeno pombo branco! Voa e leva a paz e a esperança no futuro onde você ensinará "outros Pedros" que sonhar não é pecado - pecado é se calar diante da violência que é a miséria... quantos médicos, professores, advogados e engenheiros teremos que perder para que comecemos a cuidar, investir em saúde, educação, moradia, saneamento, esporte e lazer para não termos que ver um "Denilson" ou qualquer um de seus irmãos presos por falta de oportunidade. Eu sei que não o verei preso, mas quantos de nossos jovens presos não disseram um dia que queriam somente ter um prato de comida para sua família...?


Obrigado Denilson!

Um comentário:

  1. são esses pequenos gestos que nos mostram que o mundo em que vivemos ainda tem conserto e que apenas nós enquanto pessoas de bem podemos conserta-lo, são esses gestos que não nos deixam desistir no meio de nossa caminhada em busca de mudanças.

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