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sábado, 17 de julho de 2010

Aos 80 anos, um político cada vez mais à esquerda

Candidato do Psol, Plínio de Arruda Sampaio faz caminho inverso ao defendido por Lula, que admitiu ter passado ao centro ao declarar que “pessoa idosa esquerdista” tem “problemas”

Edson Sardinha

Eleito deputado pela primeira vez em 1965 pelo Partido Democrático Cristão, que teve o ex-governador André Franco Montoro e o ex-presidente Jânio Quadros em seus quadros, Plínio de Arruda Sampaio fez o caminho inverso do presidente Lula: caminhou do centro para a esquerda.

Uma declaração dada por Lula em dezembro de 2006 mostra, em alguma medida, como os dois amigos dos tempos das greves do ABC Paulista, no final dos anos 1970, seguiram por rumos distintos, para não dizer opostos.

“Eu agora sou amigo do Delfim Netto. Passei 20 e tantos anos criticando o Delfim Netto, e agora ele é meu amigo, e eu sou amigo dele. Por que estou dizendo isso? Porque eu acho que é a evolução da espécie humana. Quem é mais de direita, vai ficando mais de centro. Quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, menos à esquerda. E as coisas vão confluindo de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito", declarou o presidente ao receber o prêmio de personalidade do ano da revista IstoÉ há três anos e meio.

“Se você conhecer uma pessoa muito idosa e esquerdista, é porque ele está com problema. Se acontecer de conhecer uma pessoa muito nova de direita, também está com problema. Então, quando a gente tem 60 anos é a idade do ponto de equilíbrio. Porque a gente não é nem um nem outro. A gente se transforma no caminho do meio”, acrescentou o petista.

Amigos, amigos, política à parte

Aos 80 anos, Plínio segue convicto em suas crenças na esquerda. É um dos principais defensores da Teologia da Libertação, da ala mais progressista da Igreja Católica, e da revolução socialista. “Eu não briguei com o Lula porque eu não brigo com ninguém. Não levo a discussão política para o lado pessoal. Minha discrepância com as pessoas é sempre uma questão política. Não tenho nada pessoal contra ele. Se nos encontrarmos, certamente seremos educadíssimos um com outro. Agora, não temos mais clima pra estar todo dia junto. É a mesma coisa com o FHC. Você pensa que eu briguei com o Fernando Henrique? De jeito nenhum. Morreu a Ruth, corri pra casa dele, corri mesmo. A política precisa ter sua dimensão, ela não pode encobrir toda a dimensão do ser humano. Sou muito amigo do Serra. Mas politicamente eu o combato.”

Na lista dos 100 primeiros brasileiros com direitos políticos cassados pela última ditadura militar (1964-1985), Plínio exilou-se por seis anos no Chile, onde trabalhou como funcionário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO). Em 1970, foi para os Estados Unidos trabalhar no Programa FAO-BID e fazer mestrado em Economia Agrícola na Universidade Cornell. Voltou ao Brasil em 1976 para dar aulas na Fundação Getúlio Vargas, fundar o Centro de Estudos da Cultura Contemporânea (Cedec) e se engajar na luta pela anistia política.

Ainda no final dos anos 1970, articulou com Fernando Henrique Cardoso e Francisco Weffort a criação de um partido à esquerda do então MDB. Eleito suplente de senador, FHC acabaria abandonando a ideia de criar o novo partido. Plínio e Weffort romperam com o MDB e se juntaram a sindicalistas e intelectuais na criação do Partido dos Trabalhadores. Em 1982, Plínio alcançou a suplência na Câmara e acabou exercendo parte do mandato. Quatro anos mais tarde, tornou-se o segundo deputado constituinte petista mais votado, com 63 mil votos, atrás apenas do deputado Luiz Inácio Lula da Silva. Na Câmara, Plínio foi vice-líder do PT e chegou a substituir Lula quando o colega disputava as prévias do partido para concorrer em 1989 à Presidência.

Psol

Mesmo sem mandato, o ex-deputado continuou ligado ao partido e aos movimentos sociais, sobretudo o dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Em 2002, por exemplo, foi o responsável pela elaboração da proposta de reforma agrária do governo Lula. Contrariado com os rumos tomados pelo partido e pelo governo, trocou o PT pelo recém-fundado Psol em 2005.

Ligado às correntes Coletivo Socialismo e Liberdade e Coletivo Socialista Rosa do Povo, que pregam a luta pelo socialismo, Plínio diverge do programa democrático-popular defendido pela presidente do partido, Heloísa Helena. O grupo ligado ao ex-deputado vetou o apoio à candidatura de Marina Silva (PV), pretendido por Heloísa, e venceu nas prévias, entre outros, o pré-candidato Martiniano Cavalcante, o preferido da ex-senadora.

O clima de guerra interno não abala a confiança de Plínio, que não vê chance de o partido desaparecer. Pelo contrário, para ele, o Psol está no caminho certo. “A massa hoje está conformada, está quieta. Isso é normal. A massa vive movimentos cíclicos. Mas estou certo de que, no primeiro movimento de massas que houver no Brasil, o Psol torna-se um agente político polarizador da disputa política do país”, avalia.

Mas há condições reais para isso? “Tranquilamente. Essas coisas são dinâmicas. Isso é uma questão natural. Sempre foi assim e será. A massa desanima, fica em casa e não quer saber de nada. E em outro momento ela percebe e vem com tudo. Foi o que aconteceu com o PT, que era um partido pequeno. Teve um movimento de massas forte, ele estava aí, entrou e ganhou.”


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