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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Torcer sem culpa, mas conscientes.

por Fernando Carneiro (*)

Mais uma copa do mundo de futebol. Milhões se unem para torcer pela seleção brasileira. Não há como negar que o futebol é um esporte de massas, que empolga e contagia. Poucos esportes podem terminar como começam, empatados em zero. Basquete, vôlei, pólo aquático não terminam 0 x 0. Poucos têm a emoção de um resultado inesperado, uma zebra. Quantos de nós já não sofreu por conta de um gol roubado ou um pênalti não marcado. Que dirá dos gols de mão de Maradona e Thierry Henry? Por tudo isso o futebol apaixona.
O fato de acontecer pela primeira vez no continente africano é mais um ingrediente nessa equação de paixão e emoção. Podemos e devemos torcer pela nossa seleção. Mas sem deixar que a paixão nos impeça de ver a realidade que cerca o futebol e sua inexorável transformação em mercadoria.
A África do Sul não é uma ilha de riqueza no continente africano. Com 50 milhões de habitantes, quase 80% de negros, o índice de desemprego atinge 25% e a maioria dos que trabalham recebem menos que U$ 1,25 por dia. Além disso, é líder em portadores do vírus HIV no mundo: 5,7 milhões de pessoas, 11,6% da população estão infectadas. A economia mais forte da África coleciona indicadores miseráveis que a copa não mostra.
O esporte, assim como a cultura, é uma manifestação humana que deveria ser livre do corte de classe, mas na sociedade de consumo em que vivemos tudo se mercantiliza, tudo vira negócio. Até mesmo os atletas viram mercadoria. O Brasil “exporta” mais de mil jogadores a cada ano. Aliás, a seleção é genuinamente “estrangeira”. O fato da burguesia se apropriar dessas manifestações nos indigna e muitos acabam, equivocadamente, deixando de torcer pelo Brasil.
Torça pelo Brasil. Torça pelo Hexa (apesar do Dunga), mas exercite sua consciência crítica.


Fernando Carneiro é historiador formado pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Equipe editorial do Ponto de Pauta para o livre debate.

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